Do que eu falo quando falo sobre pedalar

Do que eu falo quando falo sobre pedalar. Do que eu falo quando falo sobre bicicletas. Eu pensava sobre isso hoje de manhã, enquanto pedalava. Ou seja, eu pensava sobre o livro de Murakami, que não li, ainda: “Do que eu falo quando falo de corrida”. Quando eu saio para pedalar solo, eu penso. Especialmente porque eu saio para pedalar quando ainda está escuro, vai amanhecer. Eu acordo às quatro e trinta e cinco e às vezes é difícil levantar, mas levanto. Visto-me e desço e pego a bicicleta e saio. Diz a ciência que aqui está amanhecendo às cinco e vinte e quatro. A Terra gira e no momento estamos girando para amanheceres mais tardios. Em junho, julho, agosto estaremos na faixa das cinco e trinta e pouco. Em novembro, chegaremos a quatro e cinquenta. Agora, em março, está escuro às cinco, a hora em que saio. Quando chego ao centro da cidade, aos rios que cortam a cidade, já começa a clarear o céu. Se o dia amanhece com muitas nuvens, o amanhecer é mais bonito, mais laranja e cor de fogo pois as nuvens, parece, funcionam como prisma e decompõem a luz do sol assim. Dá belas fotos. Eu faço fotos com minha câmera velha no centro, do rio, das pontes, e quando chego na praia, fotos do mar com o sol arrebentando. Quando eu pedalo assim de manhãzinha, penso na vida, penso em fazer novas viagens de bicicleta, que falta de fazer viagens de bicicleta, a última em setembro passado. Penso na vida e na desvida, penso nos livros que estou lendo, evito pensar em trabalho. Pedalo tão cedo por conta de condicionantes, coisas, fatos, questões que não escolhemos, ou sobre as quais não temos poder de decidir, e este é o tempo que me sobra, todos os dias.

Aveiro – Lisboa – Recife

01/10 – Aveiro, decidimos ficar na cidade mais um dia pois o hotel Welcome Inn tinha um bom espaço, um pátio central, para desmontar a bicicleta de Águia e fazer a embalagem. Desmontar e embalar tomou boa parte da manhã. Depois, caminhamos até a estação de trem para ver o tanto que teríamos de carregar o pacotão da bicicleta de Águia e o pacotão das bagagens, e compramos as passagens para Lisboa. Almoçamos no excelente Porta 36, ao lado do Mercado do Peixe, passeamos, descansamos, e de noite passeamos e jantamos. Para jantar, repetimos o Porta 36, muito bom.

Rias de Aveiro

02/10 – Aveiro a Lisboa. Eu e Eliane fomos em três lojas de bicicleta e nenhuma delas quis comprar as nossas. Na última loja, havia um brasileiro que pretendia alugar uma bicicleta ali e ele comprou a minha bicicleta pelo preço que a Decathlon oferecia, 80 euros. Voltamos para o hotel Welcome Inn com a bicicleta de Eliane. Deixamos as bagagens no hotel, e o pacote da bicicleta, e fomos almoçar no Ponto 36, gostamos muito de lá. Depois do almoço, presenteamos Flaviane com a bicicleta de Eliane, ela ficou muito feliz. Voltamos ao hotel, pegamos o pacote da bicicleta e levamos para a estação, Eliane ficou lá, voltamos eu e Águia e pegamos os alforges e levamos para a estação. Pegamos o trem, Águia colocou o pacotão da bicicleta junto do compartimento de bagagens. Viagem boa e rápida. Na Estação Oriente, Lisboa, pegamos um táxi para o hotel. Tomamos uma bebida no rooftop do hotel A.S., depois banho e fomos de Uber para jantar com amigos na Casa do Alentejo.

Rooftop do Hotel A.S.
Rooftop do hotel em Lisboa

03/10 – Lisboa a Recife. Preparamos a mala grande, as mochilas, fomos para o aeroporto de transfer, fizemos o check-in, Águia despachou o pacote da bicicleta, entramos para a área de embarque, almoçamos com vinho. Voo tranquilo para Recife. Elis, Pedro e Ravi nos receberam.

Terminou.

Porto – Aveiro: 85 km

30/09 – Porto a Aveiro, 85 km.

Domingo. Depois do café da manhã no Legendary Hotel, muito bem situado na Praça da Batalha, tiramos as bicicletas da grande sala de malas do hotel e arrumamos as bagagens na frente do hotel. Descemos lentamente até a Ribeira para evitar qualquer incidente. Cruzamos a Ponte D. Luís I e seguimos pela beira rio de Vila Nova de Gaia e depois pelo litoral. Era domingo, pouco trânsito de veículos e muitos, muitos ciclistas. Grande parte do trajeto foi por ciclovias à beira-mar, uma infraestrutura muito boa nessa parte de Portugal. Passamos pela Capela do Senhor da Pedra, pela cidade de Espinho e em Esmoriz paramos em uma padaria para um lanchinho. Seguimos por uma longa rodovia de pouco trânsito e com ciclovia.

Na localidade de Furadouro, pegamos à direita para seguir pela longa Península de São Jacinto que corre entre uma ria de Aveiro à Leste e o Oceano Atlântico à Oeste, e termina na localidade de São Jacinto. O sol estava muito forte e a estrada era longa e quase sem curvas pronunciadas. Enfim chegamos em São Jacinto perto da hora de saída do ferry-boat para Aveiro, só deu tempo de comprar a passagem e tomar um refrigerante. Atravessamos para o porto na Gafanha da Nazaré e pedalamos para Aveiro. Almoçamos na parte antiga da cidade, e quem nos atendeu foi uma brasileira muito muito simpática, Flaviane. Depois de deixar as bagagens no ótimo hotel Welcome Inn, eu e Eliane fomos fazer o passeio nos barcos moliceiros e Águia foi dormir. Vale muito a pena fazer o passeio, de onde se tem uma vista geral das rias e da cidade. De noite, passear pelas ruas da cidade e comer pizza na Pizzaria do Nosso Bairro, na margem de uma ria e pertinho da Ponte dos Botirões.

Passeio no barco moliceiro pelas rias de Aveiro
Rias de Aveiro e seus barcos

O Porto

A cidade invicta.

Belíssima cidade do Porto, passeamos e passeamos, Sé do Porto, carimbos de peregrinação, pegamos o teleférico de Vila Nova de Gaia, visitamos a cave Cálem, o vinho do Porto explicado e degustado, excelente e instrutiva visita. Almoçamos em Gaia, dançamos na rua ao som do Fab Trio que tocava Beatles. Para a sobremesa, cruzamos a ponte, voltamos ao Porto para o pudim do abade, no Restaurante Terreiro. Lavamos roupa na lavanderia automática no final da tarde. De noite, jantamos pizza sem glúten na Santo Pizzaria.

Teleférico de Gaia
Sempre que possível, Alvarinho!
O Porto, inesquecível

Esposende – Porto: 66 km

28/09 – Esposende ao Porto, 66 km.

Dia tranquilo, rota que segue perto do mar, muitas vezes por cima dos passadiços, vias de madeira sobre a areia fofa. Mas houve trechos em que a areia havia invadido os passadiços, difícil. Também um dia em que se passa por muitas cidades à beira-mar como A-Ver-o-Mar, Póvoa de Varzim, Vila do Conde. Foz do Douro e enfim chegamos ao Porto, a cidade antiga, invicta, venerável. Almoçamos no Restaurante Terreiro, na Ribeira, excelente comida, fomos para o Legendary Hotel e depois passeamos pela cidade.

Passadiços
Passadiços, mar, em direção ao Porto
Quase chegando

Valença – Esposende: 81 km

27/09 – Valença a Esposende, 81 km. Seguimos a Ecovia do Minho até Caminha, depois seguimos um misto de rotas perto mar e rodovias. Tentamos almoçar em Viana do Castelo, mas já havia passado da hora e seguimos. Em Castelo do Neiva, cruzamos o rio pela estreita Ponte do Sebastião. Seguimos por rodovia até Cepães onde entramos para a beira-mar até o Hotel Suave Mar em Esposende. Comemos um lanche no hotel e jantamos lá mesmo à noite.

Pontevedra – Valença: 57 km

26/09 – Pontevedra a Valença, 57 km.  Saímos de Pontevedra seguindo a trilha do Rio Tomeza, depois estradas e rodovias até Cesantes e Redondela. Erramos e saímos da rodovia depois de Redondela e pegamos uma subida desinfeliz, voltamos para a rodovia, passamos lentamente por Tui, apreciando as vistas do Rio Minho. Cruzamos a ponte, entramos em Portugal e adentramos as muralhas de Valença. Almoçamos no Solar do Bacalhau e nos hospedamos na Pousada de Valença do Minho, dentro das muralhas.

Santiago de Compostela – Pontevedra: 61 km

25/09 – Santiago de Compostela a Pontevedra, 61 km. Visitamos a Igreja da Escravitude, depois em Padrón, a Igreja de Santiago Apóstolo, passamos lentamente por Caldas de Reis, almoçamos em Pontevedra onde nos hospedamos. Lavamos roupa em lavanderia automática, passeamos pela cidade e encontramos uma excelente pizzaria, Il Piccolo, que tinha massa sem glúten.

Santiago de Compostela

24/09 – Santiago de Compostela. Fomos para a Oficina de Acolhimento aos Peregrinos para pegar a compostela. O processo está muito rápido e simplificado. Como nós estávamos em três, fomos considerados um grupo; então fomos orientados como preencher tudo no computador da Oficina e cinco minutos depois fomos chamados para receber a compostela e o certificado de quilometragem. Fomos atendidos com muita simpatia e gentileza. Depois, visitamos a catedral, abraçamos Santiago e vimos a tumba do apóstolo. O Manolo estava fechado e fomos ao Restaurante Botafumeiro, que escolhi por causa do nome simpático. Nossa surpresa foi que o restaurante pertence a um brasileiro carioca, Fernando, que nos atendeu com alegria e muita conversa. Lá encontramos também um casal de peregrinos brasileiros do Estado de São Paulo, os quais têm uma pousada e conhecem o ilustríssimo peregrino Oswaldo Buzzo. Apreciamos o crepúsculo na Praza do Obradoiro, tomamos um café e voltamos para o hotel.

Melide – Santiago de Compostela: 58 km

23/09 – Melide a Santiago de Compostela, 58 km. Saímos de Melide, passamos na capelinha de Boente e selamos as credenciais, contornamos o aeroporto de Santiago, passamos ao lado do Monte do Gozo, mas não subimos porque é bobagem, dali de baixo também se vê a catedral, entramos na parte antiga da cidade, caminhando com as bicicletas e enfim a Praza do Obradoiro, fotos, e a praça estava novamente cheia de carros antigos. Almoçamos no excelente Manolo, e fomos para o hotel. Voltamos mais tarde, a pé, e passeamos pela cidade, terminando por jantar no Celeiro.