Minas Gerais: De Confins a Jaboticatubas (51 km)

Um dia longuíssimo. Praticamente não dormi, pois o voo de Recife para Confins partia às quatro da madrugada. O táxi chegou à uma e trinta, cheguei ao aeroporto às duas, fiz o check-in. entreguei a bicicleta que estava na caixa. Bicicleta com a caixa pesou dezessete quilos, e o alforje que despachei pesou seis, portanto bati certinho os vinte e três quilos. O outro alforje veio como bagagem de mão.

O avião da Azul saiu na hora, mas sobre a Bahia alguém passou mal, não sei quem foi, algum passageiro lá de trás, eu estava na frente. Saquei logo que o piloto iria desviar para Salvador. O avião pousou em Salvador. Não sei se o passageiro foi apenas atendido por um médico ou se foi retirado, eu cochilava.

Pousamos em Confins às sete e vinte, cinquenta minutos depois do horário original. A caixa da bicicleta e o alforje apareceram logo na esteira. Coloquei-os no carrinho e saí para procurar um lugar adequado para fazer a montagem. Dei uma circulada no aeroporto e encontrei um lugar pouco movimentado perto de umas latas de lixo reciclável. Desfiz as embalagens de plástico e papelão e comecei a montagem: pneu dianteiro, guidão, pedais, selim, encher os pneus. Deu tudo certo, nenhuma parte veio amassada ou torta.

Bicicleta pronta, saí do aeroporto e cruzei a grande rodovia em frente para pegar o acostamento do outro lado, pois eu seguiria no sentido oposto ao de Belo Horizonte. Segui pela rodovia MG-800 e logo após a entrada para a cidade de Confins, peguei à direita, é uma rodovia menor, pista simples, com muitas subidas.

Vou me repetir muitas e infinitas vezes, pois em Minas Gerais só existem as subidas.

Peguei a estrada de terra que corta o Parque Estadual do Sumidouro e a Área de Preservação Ambiental de Lagoa Santa. É uma região bonita, mas a estrada é difícil, muitas subidas e descidas, piso ruim, muita pedra, mas vale a pena passar por ela.

Além disso, meu objetivo é evitar ao máximo as rodovias asfaltadas e o barulhos dos veículos.

Nessa estrada do Sumidouro, passaram por mim apenas uns três caminhões, passaram devagar para levantar menos poeira e nos cumprimentamos.

A estrada de terra acaba quando chega à Lapinha, um distrito de Lagoa Santa. Essa também é uma região muito bonita, e possui pousadas e restaurantes. Entretanto, não serviam para mim, pois era cedo e essa região fica a apenas dezoito km do aeroporto. Se alguém pegar um voo que chegue mais tarde à Confins, pode se hospedar nessa região no primeiro dia de cicloviagem. Parei em um bar na Lapinha para comprar uma garrafa de 1,5 litro de água. Levo a garrafa sob a tampa do alforje e ela permanece gelada e fresca por muito tempo.

Cheguei à rodovia MG-10, incômoda, estreita, carros velozes, mas era só um trechinho, pois logo à frente eu sairia dela. Nesse trecho da rodovia há alguns restaurantes, mas estava muito cedo para almoçar, os restaurantes ainda não estavam preparados. Talvez tivesse sido melhor esperar um pouco e almoçar por ali, pois o trecho seguinte é cruel.

Saí da MG-10 e peguei a estrada de terra para Jaboticatubas. Bom, foi subida o tempo todo. Claro que, olhando o perfil, vê-se que há subidas e descidas, mas as subidas eram enormes, longas, íngremes, demoradas. Chega ficava triste quando vinha uma descida, pois sabia que depois da descida voltaria a subir tudo de novo.

Contudo, cabe observar que nenhuma das subidas ali é impossível de fazer. Todas são subíveis e todas foram subidas, lentamente, com calma. Mas não é fácil. Como diz Bagaceira, fiquei demente e estava até achando engraçado a sucessão de subidas. De todo modo, a cada topo de monte era legal ver ao longe a sombra imensa da Serra do Cipó, um dos meus objetivos, pois irei cruzá-la em breve.

Antes de começar esse trecho, eu pensava parar em Jaboticatubas somente para almoçar e continuar até a Serra do Cipó. Entretanto, fazia esse trecho lentamente. Não dava para ir rápido nem nas descidas, pois a estrada é ruim e poderia quebrar algum raio, o bagageiro ou mesmo o aro se descesse muito rápido com a bagagem. Fiquei um pouco preocupado sobre se iria encontrar almoço em Jaboticatubas, o tempo passando.

Decidi ficar nessa cidade, queria almoçar e descansar. Enfim, cheguei ao centro da cidade por volta das treze e quarenta, uma pracinha, alguns bares e restaurantes. Encontrei a Pousada Josephina Tonelli, que fica em frente à bela Igreja do Rosário. Perguntei ao proprietário em qual restaurante poderia encontrar almoço, ele recomendou o Flor da Laranja.

Deixei os alforjes no quarto e fui para o Flor da Laranja, que era um restaurante self-service de preço único, quinze reais por pessoa. Pedi uma Brahma que veio geladinha, e repeti diversas vezes o macarrão e o feijão. Que fome! Que cerveja boa! Ainda comi frutas, fazia parte do preço único, e picolé, por fora.

Com as atendentes, peguei informação sobre onde comer à noite e sobre as duas igrejas da cidade. Depois do almoço, embora pesado, subi a grande ladeira até a Igreja da Matriz, na verdade Igreja da Imaculada Conceição. Estava aberta, entrei, simplesinha e bonitinha, teto de madeira. Depois passei na menor, a Igreja do Rosário, de 1889, estava fechada.

Lavei bicicleta, a poeira vermelha inundou todas as peças, lavei a roupa, banho. Importante destacar que, provavelmente, eu trouxe um corta-vento e um colete mais quente em vão. Aqui em Minas, o sol está de rachar. O vento é frio, mas nada que incomode. É bem friozinho de manhã, com sol forte e céu sem nuvens, e vai esquentando ao longo do dia.

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